
Eu nunca tinha morado sozinha. Sou a caçula de 3 irmãos, então quando eu cheguei, a casa já estava cheia. Aos dezoito anos saí de casa pra fazer trabalho voluntário e de cara já dividi um quarto com mais 7 meninas. Durante mais alguns anos segui assim. Nesse período minha mãe se mudou para um apartamento menor e desfez meu quarto. Quando fui fazer faculdade no Rio, morei com minhas primas e depois dividi apartamento com duas amigas. Depois me casei, depois me separei. Então há três anos eu moro sozinha.
Observo a rotina dos meus amigos que ainda moram com os pais ou voltaram a morar com eles. Observo os casados e os que têm filhos. Todos eles precisam dedicar tempo às pessoas, alguns porque querem e outros porque são obrigados. Por vezes invejo suas vidas, mas de um jeito bom. Mas também aprendi a valorizar a solidão.
A solidão não precisa ser triste, ela pode ser muito proveitosa. Do silêncio ao som de uma música no volume máximo, a liberdade de fazer o que quer. Tempo sobrando, grande oportunidade de ser egoísta e viver só em função de você mesmo. Dormir quando tem sono, acordar quando tem vontade, lavar a louça ou não. Aos poucos percebi que se não me despertasse, poderia desperdiçar o lado bom de estar só.
Ocupo minha rotina em casa lendo livros, escrevendo textos e diários, tocando violão, compondo, insistindo em cuidar de plantas até que elas parem de morrer, aprendendo a cozinhar receitas novas, gravando vídeos pra fazer os outros rirem, desenhando, assistindo filmes de diversas nacionalidades, arrumando soluções inusitadas para problemas domésticos... Mas principalmente tomei uma decisão de não privar as pessoas da minha companhia. Sempre faço um esforço para estar com os outros em suas celebrações pela vida, em suas lamentações pelas perdas ou para tomar um café. Faço isso por opção e não porque sou obrigada. Repartir um pouco de mim com as pessoas, mesmo sem ter ninguém em casa.
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