Sempre tive meu trabalho como uma missão, tentando fazer da minha aula o
melhor momento do dia do meu aluno. Tentando com afeto e senso de humor
transmitir um pouco de alegria. Mas na sexta-feira não consegui. Teve
"bom dia", teve música, teve arte, mas não teve alegria, só choro. Eu
mal conseguia respirar, tamanha a minha sensação de solidão e falta de
pertencimento. Como se a minha presença ali fosse totalmente
desnecessária. Eu precisava ir à emergência, dirigi até onde consegui.
Peguei um uber, cheguei ao hospital e dei com a cara na porta, porque
este não me atendia mais. Com muita falta de ar fui andando até outro,
mais ou menos umas 7 quadras. Outro que também não me atendia mais,
havia mudado tudo naquele dia. Caçando as minhas carteirinhas, descobri
uma que me atendia bem ali. Disse à médica que sentia uma angústia
profunda, o peito acelerado e que achava que estava infeliz. Também
disse que fiquei na dúvida se o que eu sentia era uma emergência, ela
disse: SEMPRE. Ela me deixou em observação e me deu um Valium. Valium
parece o céu, não há lágrimas, não há dor, não há sentimento algum, só
uma sensação de paz. A médica perguntou se eu me sentia melhor, eu disse
que sim. Me liberou pra ir pra casa, eu estava meio tonta, não tinha
ninguém pra me acompanhar até em casa. Foi a primeira vez que eu
preferiria ficar no hospital (porque lá tinha gente e a minha casa
estava vazia). Mas eu estava com a passagem comprada pra ver a minha
família no carnaval. Eu precisava conseguir viajar sozinha 14 horas de
ônibus até o Rio. Entrei no ônibus, dormi a noite toda. Devido ao caos
do Carnaval, atrasos e trânsito, eu levei um total de 24 horas pra
chegar até Búzios. Meu irmão e minha cunhada foram me buscar na
rodoviária e de lá me levaram para a casa que nunca foi nossa, foi
apenas alugada para esses dias de carnaval. Quando eu entrei nesta casa
que não nos pertencia, vi a minha família, que embora imperfeita, abria
os braços para mim, finalmente eu senti que pertencia.

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